quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

“Mas, ai de nós!
Um caso triste aconteceu então, um caso de infelicidade e de crueldade, mas que mostra quanto é sincero e terno, sendo forte e corajoso, o coração dos Portugueses…
Tinha D. Afonso IV um filho, D. Pedro, rapaz alegre e destemido, que gostava muito de uma dama da Rainha, chamada D. Inês de Castro.
Em Coimbra, numa quinta a que mais tarde se deu o nome de Quinta das Lágrimas – pelos trágicos acontecimentos que lá se deram – vivia em sossego a linda D. Inês.
Ora o Príncipe não podia casar com uma senhora qualquer, mas só com uma Princesa de sangue real. Assim o exigiam nesse tempo os usos e normas da corte. Se Pedro não os cumprisse, não o deixariam ser rei…
Por isso, muito se afligia D. Afonso, vendo o filho tão preso dos encantos de Inês, e não querendo casar com nenhuma Princesa verdadeira.
Aconselha-se o Rei com os seus ministros – e resolveram tirar a vida à pobre D. Inês, cujo único pecado e crime era amar o seu príncipe.
Vão buscá-la a Coimbra e trazem-na arrastada à presença do Rei.
Apertando muito ao peito os filhinhos que tinha de D. Pedro, Inês chora, geme, pede e suplica piedade, não para ela, mas para os filhos, que, ficando órfãos, que perdendo a mãe, tudo perderiam. Roga a D. Afonso que antes a exile para um deserto, mesmo entre feras bravas, mas que não roube o seu amor às criancinhas que traz ao colo, inocentes de todo o mal e de toda a culpa…
Ainda se comove o rei, mas não se comovem os conselheiros.
Demais a mais, ela era castelhana, e o povo não gostava das mulheres vindas do país, cujo povo tinha sido e era seu inimigo. Uma rainha castelhana era coisa que não queriam os Portugueses; mas, se tivessem visto Inês chorando e abraçada aos filhos, decerto lhe teriam perdoado…
Os ministros é que não perdoavam… Arrancam das espadas de aço fino, e trespassam o seio da formosa Inês.
Mas, assim que ela morreu, chorou-a todo o povo, e até a choraram os seus mais cruéis inimigos, tão nova e bonita era a apaixonada de D. Pedro…
As águas do Mondego ficaram a correr melancólicas – e uma fonte nasceu no sítio onde ela costumava encontrar-se com o seu amado Pedro, uma fonte plangente e cristalina que se ficou chamando «Fonte dos amores».
D. Pedro não esqueceu nunca a sua querida Inês, que ainda a morrer gritava por ele.
Assim que subiu ao trono, coroou-a rainha, como se viva fosse, entre festejos e pompas solenes. E castigou com severidade os ministros responsáveis da sua morte.
Mas nem só a eles castigou. Enquanto reinou nunca perdoou nenhum crime, e não consentiu jamais que nenhum homem mau vivesse tranquilo e impune.
Foi justo e, por vezes, cruel. Mas, austero e bravo, soube defender o seu reino das cobiças alheias.”